“Não existe liberação de carga, o que ocorreu foi furto qualificado”, afirma policial rodoviário


Furto sendo justificado como carga liberada, fome, necessidade e até mesmo esquema com seguradora. O fato é que o que aconteceu em Wenceslau Braz no último domingo virou notícia nacional.

Vinte e sete toneladas de carne que, provavelmente demoraram um dia inteiro para serem carregadas no caminhão, foram saqueadas em menos de 20 minutos por centenas de pessoas. O crime ocorreu por volta das 13 h, do último domingo (18), após o tombamento de uma carreta Mercedes Benz carregada de carnes. O motorista, Alberto Luiz Minosso, vítima de escoriações leves, ainda estava sendo hospitalizado, quando a população avançou sobre a carga e, desacatando a ordem policial, depredou totalmente o caminhão para ter acesso às centenas de caixas de carne.

Enquanto orientavam o motorista do guincho, para evitar que houvesse risco às pessoas que transitavam no local, os policiais não conseguiram evitar o saque. Com apenas dois militares rodoviários no local, ficou impossível conter as mais de mil pessoas que se aglomeraram para saquear o caminhão, atravessado na pista que permanecia bloqueada nos dois sentidos.

Inúmeras imagens registraram a ação, onde famílias inteiras corriam com caixas nas costas e dentro de veículos.

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Não existe liberação

A empresa rondoniense, proprietária da marca Frigon, não quis se manifestar sobre o ocorrido. No entanto, segundo informações da empresa Piraju dde Várzea Grande (MT), transportadora da carga que seria levada à Itajaí (SC) para ser exportada, em caso de sinistro, a seguradora passa a ser proprietária da carga, mas em nenhum caso ocorre liberação, mesmo sob condições de avarias. O correto é que seja aguardado o veículo da seguradora para fazer a limpeza ou recolhimento da carga, que, no caso de W. Braz, foi realizado pela própria população.

Segundo o sargento da Polícia Rodoviária Estadual de Siqueira Campos, José Eduardo Teixeira, nenhuma carga é “liberada” para a população, não sendo competência da PMR esse tipo de permissão. “Quando uma carga de perecíveis sofre um sinistro, os alimentos não podem ser liberados devido à situação dos produtos que podem acarretar em danos para a saúde das pessoas, por isso, a empresa responsável é acionada para realizar a limpeza imediata do local. Mas no caso do último domingo, o baú nem havia rompido, ou seja, não houve nem descarte de produtos, e, mesmo assim, a estrutura foi arrombada pela multidão”, afirmou o sargento.

O oficial ainda salientou que nunca presenciou uma situação parecida, pois em outras ocasiões, no mínimo, a carga havia rompido e os produtos esparramados, mas da maneira como foi feito, foi o primeiro registro na carreira do sargento. “Não existe liberação de carga, muito menos de carga lacrada, o que ocorreu foi furto”, finalizou o policial.

A seguradora Pancari, apontada como responsável pela carga, foi contatada, mas não comentou o caso.

Uma pesquisa feita pela reportagem apontou que o prejuízo, somente da carga, pode ultrapassar os R$ 500 mil, sendo contabilizado também, o valor do baú frigorífico que foi destruído, que pode chegar aos R$ 60 mil.

Furto qualificado

Manchete em dezenas de portais, nesta segunda-feira, um dia depois, os reflexos da ação começaram a surgir. O promotor titular da comarca se manifestou em rede social repudiando o fato. Representando o Ministério Público, Joel Carlos Beffa, solicitou a abertura de um inquérito policial para apurar a identidade dos autores, e pediu a colaboração da população que tenha em mãos fotos, vídeos, mensagens ou quaisquer registros de pessoas que tenham participado do furto qualificado ao caminhão.

Segundo o promotor, não só quem furtou, mas quem está comprando será autuado como receptador de mercadoria roubada, sendo que todo registro deve ser entregue ao Ministério Público para a abertura dos processos.

O delegado Miguel Chibani, embora esteja de férias, foi consultado pela reportagem e advertiu que todos os autores, no que possível, serão qualificados e devidamente punidos.

A Polícia Militar, por sua vez, também já iniciou as buscas pelos suspeitos e pelos produtos. Ainda na manhã de segunda-feira, centenas de quilos de carne já haviam sido recuperados.

Os envolvidos podem ser presos e os produtos serão levados à 36 ª Delegacia de Polícia, para serem devolvidos ao proprietário legal, neste caso, a seguradora. Lembrando que a pena para furto qualificado é de 2 a 8 anos e receptação qualificada de 3 a 8 anos. Até o final desta segunda-feira, 11 pessoas já haviam sido detidas com o produto.

Fonte: Folha Extra

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