A nova tabela de frete rodoviário, proposta pela EsalqLog/USP e atualmente em fase de consulta pública, pode reduzir significativamente os preços de frete para cargas a granel em rotas cruciais ao setor agropecuário, conforme levantamentos de entidades do agronegócio brasileiro obtidos pelo Valor. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) espera publicar uma nova resolução e uma nova tabela no próximo dia 20 de julho.
Na comparação com a tabela em vigor desde maio do ano passado, para o transporte de soja, milho e farelo de soja, o preço do frete recuará 50%, para R$ 89 por tonelada, no trecho de Lucas do Rio Verde (MT) a Miritituba (PA), onde se concentram terminais portuários.
Em um percurso maior, de Sinop (MT) ao porto de Santos (SP), a queda estimada para o valor do frete com a nova metodologia é de 51%, para R$ 171 por tonelada.
Juntos, os dois trajetos respondem pelo escoamento de cerca de 70% das exportações originadas pelo Mato Grosso, Estado que lidera a produção nacional de grãos.
“O que pudemos ver é que no caso do granel sólido, a tabela da Esalq traz uma redução enorme nos valores de frete comparado à tabela atual”, afirmou ao Valor André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de óleos Vegetais (Abiove), que fez o levantamento de preços considerando a metodologia proposta pela EsalqLog.
Na avaliação de Nassar, a nova tabela refletirá com mais fidelidade os custos de transporte rodoviário e se aproxima dos valores praticados antes da lei do piso mínimo de frete, sancionada com o intuito de cessar as greves de caminhoneiros que afetaram o país em 2018.
Ao Valor, o diretor da ANTT, Marcelo Vinaud, admitiu que o estudo da Esalq é “bem mais técnico” que o primeiro feito pela agência. “Na medida em que contrata uma composição maior [caminhão com mais eixos], você tem uma redução do valor [do frete]”, disse. A nova tabela, da Esalq, considera parâmetros como mais eixos, rodagem de pneus, horas trabalhadas, etc. (ver Queda não será generalizada).
A nova tabela, que ainda está em discussão – a ANTT realiza hoje, em Brasília, a última audiência pública para colher sugestões de transportadores e empresas -, também reduz em até 58% os fretes para lácteos em distâncias médias, geralmente usadas pelo setor em trajetos entre Goiás e São Paulo, ou da região Sul a São Paulo.
“Com a tabela da Esalq, o preço do leite UHT pago pelo atacado à indústria ficará 8,7% menor do que com a tabela vigente, o que também pode trazer um preço final menor ao consumidor final”, projetou Marcelo Martins, diretor-executivo da Viva Lácteos, que representa as indústrias do setor.
Procurada, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa os grandes frigoríficos de carne de frango e suína, respondeu que a tabela da Esalq também é mais “adequada” que a atual. Em contrapartida, para as distâncias mais curtas, de até 250 km, a nova tabela pode significar aumento no preço de frete, ponderou a ABPA.
Apesar da avaliação positiva de representantes do agronegócio, nem todo o setor deve se beneficiar. Se adotada, a nova tabela elevará o frete de fertilizantes. “É notório que teremos um incremento substancial (acima de 50%) para o setor, na medida em que vivemos historicamente do chamado frete de retorno”, afirmou David Roquete, diretor-executivo da Associação Nacional para Difusão de adubos (Anda).
Fonte: Valor Econômico