Mais de 600 empresas e 48 mil caminhões brasileiros percorrem a América do Sul levando carga comprada ou vendida pelo país. O transporte rodoviário internacional de cargas é representativo por aqui: 58% de tudo o que é comercializado com países sulamericanos passa pelas rodovias. E como todo o setor, o transporte internacional também vem sentindo o peso da crise política e econômica.
“Quando você opera na área internacional, você tem que levar em conta que tudo é cotado em dólar americano. E existe uma pressão muito grande para que sejam feitos descontos quando a cotação da moeda está em alta”, explica Sônia Rotondo, diretora executiva de transporte internacional e multimodal da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). Ela cita que um frete razoável de US$ 3.600, chegava a ser feito por US$ 3 mil nas oscilações maiores do dólar no Brasil. “Isto é extremamente prejudicial às empresas e ao setor como um todo, porque os custos do negócio não tiveram desconto, então muitas empresas se endividaram”, avalia. “Estamos passando por um cenário econômico ruim para quem vende e quem compra. E isso reflete diretamente no transporte. Do ano passado para cá, houve uma redução de 35% no transporte rodoviário internacional. Essa margem não é pequena”, alerta.
Em sua análise, a crise ainda perdura ao menos até o fim do ano. “Até 2017 não haverá milagre. Vivemos um momento muito peculiar, uma soma de fatores que repercute na economia. Quando tivermos uma definição política, talvez comecem a melhorar as tratativas internacionais”, afirma. E completa: “O Brasil é o condutor da América do sul. A maior economia, a maior população, a maior produção, o maior mercado consumidor. À medida que o país começa a dar um respiro, você traz consigo todo o continente”, aposta.
Como funciona?
O Brasil, em virtude de sua situação geográfica, mantém historicamente acordos de transporte internacional terrestre, principalmente rodoviário, com quase todos os países da América do Sul.
O Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre entre os Países do Cone Sul, que contempla os transportes ferroviário e rodoviário, inclui Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Peru, Paraguai e Uruguai. O Mercado Comum do Sul (Mercosul), que é um Tratado de Integração, com maior amplitude entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, também absorveu o Acordo de Transportes do Cone Sul.
Tais acordos servem para facilitar o incremento do comércio, permitindo que veículos e condutores de um país, circule com segurança e trâmites fronteiriços simplificados nos territórios dos demais.
O Brasil tem acordo ainda com Guiana, Venezuela e busca fechar negociação com a Colômbia (atualmente, a carga com destino a este país precisa seguir via Peru).
Para realizar o transporte rodoviário internacional de cargas, as transportadoras, bem como seus veículos, devem obrigatoriamente estar habilitados pelo órgão de transporte internacional de cada país – no Brasil é a Agência Nacional de Transportes Terrestre (ANTT).
O principal destino dos caminhões brasileiros é a Argentina, sendo seguido por Paraguai, Chile e Uruguai. As cargas vão de produtos agrícolas a produtos químicos, carros, motos, sapatos, boninas de papel e roupas, entre outras.
Para Vicente Aparicio Y Moncho, diretor da Álamo, empresa especializada em transporte internacional, a maior dificuldade para as empresas que realizam este tipo de transporte é a falta de sincronismo nos acordos em razão de legislações não uniformes entre os países.
Quanto aos motoristas, ele explica que é exigido ter ao menos um entendimento básico do idioma espanhol, além de conhecimento das leis de transito de cada destino. E que, apesar dos muitos quilômetros a serem percorridos, o que vale é a lei brasileira – ou seja, o tempo de direção e as paradas para descanso são as mesmas.
Fonte: Diário de S. Paulo