No início de fevereiro, Neri Geller, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, anunciou que o governo deve destinar mais R$ 1,5 bilhão para o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota). O montante destinado atualmente para o Plano Safra 2015/2016 é de R$ 7,5 bilhões. Caso se confirme, será o segundo suplemento de valor ao programa, que chegará a R$ 9 bilhões. Em junho do ano passado, quando foi lançado, o total era de R$ 5 bilhões A intenção é atender a toda a demanda ainda neste Plano Safra, que termina em 30 de junho. Como isso será feito ainda em discussão com a equipe econômica, mas Geller garante que dinheiro não vai faltar. “Se houver demanda, poderemos aumentar os recursos ainda mais”, disse ele em uma reunião com os diretores da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no mês passado. O adicional foi um pedido da entidade, que estima uma demanda ainda maior, de R$ 11 bilhões, para a safra 2017/2018 que começa em julho.
Os motivos para a atual demanda são vários, mas o principal é a expectativa de uma safra de grãos acima de 210 milhões de toneladas, um crescimento de 12,7% em relação à anterior. Outra causa é a elevação de 2,9% no Valor Bruto da Produção (VBP) agrícola, que deve chegar a R$ 546 bilhões até dezembro. Também contribui o fato de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ter elevado, no início deste ano, o limite de faturamento para a inclusão de produtores nas categorias de pequeno e médio portes para a captação de empréstimos. Os produtores com faturamentos anuais entre R$ 90 milhões e R$ 300 milhões passaram a ser tratados como médios. Com isso, a taxa base de juros, anteriormente de 10,5% ao ano, caiu para 8,5%. As facilidades, de acordo com a Anfavea, devem elevar as vendas de máquinas agrícolas no mercado doméstico em cerca 13% em 2017, alcançando 49,5 mil unidades. Na produção, a previsão é de alta de 10,7% no ano, para 59,6 mil unidades. Segundo dados do BNDES, de imediato, cerca de 1,5 mil empresas poderão obter financiamentos em condições melhores. Em 2016, o Moderfrota liberou R$ 6,68 bilhões, dos quais R$ 6 bilhões foram utilizados por empresas e pessoas físicas classificadas como pequenas e médias.
Os empresários do setor avaliam que a mudança na classificação, pelo BNDES, deverá impactar as vendas neste primeiro semestre. Isso porque logo após a colheita da safra de soja, que termina em abril, os agricultores saem às compras. De acordo com Yuri Lukjanenko, gerente comercial AGCO Finance, banco das marcas Massey Ferguson e Valtra, a indústria está preparada. “Mais de 80% dos nossos financiamentos se servem dessa linha do BNDES”, afirma Lukjanenko.
“A alteração deve elevar a participação desse segmento em nossa carteira.” No ano passado, de acordo com a Anfavea, a Massey Ferguson produziu 8 mil tratores de roda e a Valtra, 7,2 mil unidades.
No banco CNHIndustrial, que opera para as marcas New Holland e Case, cerca de 60% das vendas são financiadas com recursos do BNDES. Alexandre Blasi, diretor comercial da multinacional New Holland Agriculture, acredita em um impacto positivo nos negócios também entre os grandes produtores. “Os grandes produtores, que faturam mais de R$ 300 milhões, já tomaram quase todo o crédito disponível no BNDES”, afirma Blasi. O executivo diz que esse segmento está pronto para investir em tecnologia.
Caminhões
Assim como no mercado de máquinas agrícolas, o setor de caminhões também tem uma expectativa de reação com os recursos que estarão disponíveis via BNDES. No ano passado, foram financiados R$ 4,37 bilhões pelo Fundo de Financiamento para Aquisição de Máquinas e Equipamentos Industriais (Finame), destinado a caminhões. Desse total, R$ 3,67 bilhões, valor equivalente a 84% foram destinados a produtores pequenos e médios. Segundo Alex Nucci, diretor comercial do Scania Banco, os financiamentos por essa linha de crédito, que representam 75% das aquisições caminhões da montadora, devem crescer justamente em função do agronegócio. Em 2016, a Scania vendeu 4,2 mil caminhões. “Cerca de 35% dos nossos clientes são ligados a esse segmento”, diz Nucci. “Por isso estamos otimistas.”
Nos últimos dois anos, o mercado de caminhões vinha patinando. O cenário foi fruto de uma ressaca da política de crédito excessivamente favorável do governo federal em 2013 e 2014, que fez com que os caminhoneiros e empresas do setor antecipassem a renovação da frota em um mercado que já estava aquecido. No ano passado, entre todas as categorias, de leves a pesado, foram licenciados no País 50,6 mil caminhões, a menor quantidade desde 2002. Naquele ano, foram vendidos 137 mil caminhões. Paulo Pinho, superintendente do Banco Volkswagen, diz que o setor deve conhecer os primeiros sinais de recuperação neste mês. “É difícil estimar agora o tamanho desse impacto, porque o início do ano é sempre mais fraco do que os demais meses”, diz Pinho. Segundo a Anfavea, a MAN vendeu 13,7 mil caminhões em 2016, ante 40,8 mil unidades em 2013 e 36,2 mil unidades em 2014. “Em função da renovação da frota ocorrida em 2013 e 2014, o nível de vendas neste ano pode não ser tão alto quanto o aumento da produção agrícola esperado”, afirma Pinho.
Fonte: Dinheiro Rural