É o caso do catarinense de Ijui, José Goi, 55 anos de idade, 25 de profissão, que viaja pelo Brasil inteiro. Ele afirmou que quando está rastreado roda com mais tranquilidade e responsabilidade. “Me sinto mais seguro sabendo que minha viagem está sendo acompanhada de longe. As estradas estão perigosas, sem isso fica arriscado”, desabafa.
Goi comentou que já se acostumou a dar as informações para a empresa sempre que alguma coisa sai do planejado. Ele explica que quando pega trânsito pesado na BR-116, por exemplo, avisa imediatamente para evitar ser bloqueado. “No começo eu parava para abastecer e esquecia de reiniciar a viagem. Resultado: era bloqueado. Mas em poucos minutos já estava liberado para seguir. Hoje, apesar de ter perdido um pouco da liberdade na estrada já me acostumei e, sinceramente, acho muito bom ser vigiado”, brincou.
A mesma opinião é compartilhada pelo gaúcho Carlos Machado, de Santo Ângelo. Há 21 anos na estrada, e atualmente viajando na rota Mercosul, ele lembra que quando iniciou na da profissão os tempos eram outros, não havia tanta necessidade de usar o rastreador e os motoristas tinham mais liberdade de horário e rotas. “Mas hoje só me sinto seguro com o rastreador, mesmo sabendo que o equipamento não impede o roubo do caminhão e da carga. É bom ter com quem dividir o problema”, comentou.
O ponto negativo, em sua opinião, são os locais de parada indicados pelas seguradoras. Na sua opinião, os lugares nem sempre contam com infraestrutura adequada para receber os motoristas e caminhões com segurança. “É muito diferente quando entramos na Argentina ou no Chile, onde em cada pedágio há um ponto de apoio para o carreteiro. O Brasil precisa melhorar muito. Há 21 anos os postos de serviço eram pontos de apoio, hoje só podemos parar se abastecermos ou utilizarmos algum serviço”, comparou.
Machado diz ainda que quando opta por parar em um local diferente do proposto no início da viagem, avisa a empresa que entra em contato com a seguradora autorizando a parada. “O patrão já trabalhou na estrada e por esse motivo é mais flexível e sabe avaliar os pontos realmente seguros. Então é mais tranquilo”, reconheceu.
Antônio Marcos Mendonça, 46 anos de idade, natural de São José do Rio Preto/SP, lembra que quando começou na profissão, há 22 anos, as estradas eram precárias, os caminhões menos confortáveis. “Hoje temos veículos mais seguros e os rastreadores que ajudam a inibir o roubo de carga. Já fui assaltado. Os bandidos levaram o caminhão e eu fiquei quase dois dias amarrado em um canavial. Então, eu sei bem o que é isso. Me sinto mais protegido sendo rastreado”, justificou.
Antônio recorda que no começo sofreu um pouco com os bloqueios no veículo, mas por esquecer de fazer o procedimento de segurança. “Eu entrava no caminhão, digitava a senha para iniciar a viagem e abria a porta. Automaticamente a seguradora bloqueava o veículo. Nesse caso, você tem de entrar em contato, responder uma série de perguntas, explicar o que aconteceu e aguardar uns três minutos para ser liberado. Mas isso foi só no começo”, destacou.
Diz que o único ponto negativo do rastreamento é ter de seguir os pontos de paradas sugerido pelas seguradoras, os quais muitas vezes são lugares isolados, perigosos e de fácil acesso para os bandidos. “Às vezes eu pego a rota e sei que nela existem lugares de parada melhores, mas não podemos mudar o plano inicial. Não escolhemos nada. Mas também, hoje não cabe mais essa liberdade”, desabafou.
Diferente dos colegas brasileiros, o chileno Pedro Galvez, 57 anos de idade e mais de 30 de profissão, de Santiago, explica que apesar do veículo ser rastreado quem determina os locais de paradas são os próprios motoristas. Porém, a rota quem faz é a empresa. “Quando acontece de sairmos do caminho estabelecido temos apenas de ligar e informar o motivo”, explicou.
Galvez acredita que os ladrões sabem como desarmar o sistema de rastreamento. Diz que hoje em dia o equipamento serve mais para o empresário monitorar caminhão e motorista e verificar se a rota está correta. Acredita que a melhor maneira de se proteger do roubo de carga é escolher lugares seguros e com infraestrutura para parar. Galvez conclui dizendo que o Brasil tem muito a melhorar nesse sentido.
Maicon Koslowski, 32 anos de idade e 10 de profissão, da cidade de Francisco Beltrão/PR, tem sistema de localizador no seu caminhão, que funciona de maneira diferente do rastreador. “Já trabalhei em lugares que utilizavam o rastreador. Era bem complicado. Qualquer imprevisto na estrada era obrigado a parar e ligar para a empresa, embora nem sempre o sinal estava disponível. Uma vez dormi demais e perdi o horário programado para sair. Fui bloqueado e todo o processo para o desbloqueio durou mais de 40 minutos. Tive de responder ‘milhares’ de perguntas inclusive o local do corpo onde tenho tatuagem”, lembrou.
Com o localizador diz que dirige mais tranquilo, porque ele é o responsável por escolher a rota e os locais de parada. A empresa apenas monitora. “Posso me comunicar com ela em qualquer situação diferente e tenho um botão de pânico à disposição, localizado no painel para o caso de qualquer emergência”, explica. Mas Maicon concorda que se o ladrão estiver disposto a levar o caminhão e a carga o sistema não vai impedir.
ROUBO SEM PUNIÇÃO SEVERA
O uso de rastreador em caminhões passou a ser uma das principais medidas adotadas pelos transportadores na tentativa de reduzir os prejuízos causados pelo roubo de cargas, que se transformou em um negócio rentável, movido pela ganância e sem punição severa.
O assessor de segurança do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), coronel do exército Paulo Roberto, explica que há 40 anos, pode-se dizer, não havia ocorrências de roubo de cargas, pois não existia estrutura de crime organizado. “Porém, de 20 anos para cá, esse crime passou a ser articulado com a figura de um receptador para a carga furtada. A prática passou a ser vista pelos criminosos como uma maneira rápida, fácil e sem punições de ganhar dinheiro”, conclui.
Fonte: O Carreteiro