Como as mídias sociais ajudam na estrada


Você que usa a internet sabe que ela é hoje a forma mais fácil e rápida de se conectar com o mundo. Por ser um território livre, não é legal ser escravo dela, mas é saudável usar o que ela oferece de bom a nosso favor.

Com o avanço das mídias sociais, é comum seguir perfis, nos mais variados segmentos, no intuito de se informar, comparar e até decidir por algo. Esse trabalho vem sendo realizado pelos “influenciadores digitais”, que são na verdade produtores de conteúdo para seu fiel público da internet. Assim como em várias profissões, motoristas de caminhão investiram na ideia para falar de experiências no melhor cenário que podiam ter: a estrada.

Um exemplo de influenciador digital é a carreteira Sheila Rosa Marchiori, mais conhecida como Sheila Bellaver, que a cada dia conquista mais seguidores em suas plataformas digitais. Natural do Rio Grande do Sul, a motorista tem hoje mais de 1 milhão de seguidores no Youtube, mais de 630 mil no Instagram, além de vários perfis de fã-clubes no Facebook.

Na estrada há 10 anos e há 4 como influenciadora digital, Sheila faz a rota Minas Gerais/Rio Grande do Sul com seu caminhão rosa (Scania R440) com câmara fria, transportando frutas e verduras. “As pessoas que mais assistem meus vídeos são aquelas que sonham entrar para a profissão. Eu nunca pensei ter tantos seguidores, e o resultado disso é que a gente nunca está sozinha na estrada. Costumo dizer que sou vigiada pelo rastreador, por Deus e pelos amigos”, brinca.

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Sheila Bellaver tem hoje mais de 1 milhão de seguidores no Youtube

Toda essa repercussão chega a ser uma surpresa para a gaúcha, que começou a fazer vídeos graças a ideia de um colega de estrada. “Lembro que na época não tinha mulher na estrada fazendo isso.  Ser Youtuber hoje não deixa de ser uma profissão como qualquer outra, é uma fonte de renda. Por outro lado, me preocupo com o conteúdo que passo, sempre com o melhor exemplo, pois muitas crianças assistem o meu canal. Pra mim, o influenciador digital passa experiências, opiniões e, de certa forma, ensinamentos”, conta. Segundo a motorista, as mídias sociais vieram para ajudar na rotina do motorista de caminhão que já sofre tanto na estrada. “Eu amo ser motorista de caminhão, sonho com isso desde criança, mas precisamos de mais união para que as coisas melhorem, porque enquanto a classe trabalhar contra a classe, não há como chegar a lugar algum”, finaliza.

“Eu amo ser motorista de caminhão”, afirma a gaúcha

Outro influenciador digital do transporte é Claudemir Gigliotti, 36 anos, 18 anos de profissão, de Sinop/MT. Ele  transporta grãos, na rota de Miritituba, Imbituba, Paranaguá, no estado do Paraná e Nordeste; cavalos acidentados para uma associação de Cascavel/PR e máquinas linha amarela em todo território nacional. Conhecido como Neni, atualmente o influenciador tem mais de 600 mil inscritos e 597 vídeos no seu canal no Youtube e 146 mil inscritos no Instagram. Ele explica que não tinha muito conhecimento dessas plataformas e que tudo foi acontecendo de maneira natural.

Neni tem mais de 600 mil inscritos e 597 vídeos no seu canal no Youtube

“Quando comecei não tinha ideia do que essas mídias eram e nem que podiam ser rentáveis. Tudo começou como um hobbie, de estar entre os colegas fazendo vídeos, brincando um com o outro. Mas, todos os vídeos que eu postava começaram a ter bastante acesso. Um exemplo é o vídeo do “Pneus amarrado atrás da carreta” que estourou e as pessoas começaram a pedir para eu fazer mais vídeos. Até que eu recebi uma ligação de um amigo dos Estados Unidos, do canal Presta Atenção Brasil, dizendo que eu era um “Youtuber” pois tinha mais de 25 mil inscritos e me explicou todas as vantagens da ferramenta e que poderia ter uma renda com isso. E foi ai que tudo começou efetivamente”, contou.

Para Neni, o trabalho do influenciador digital é muito importante. No seu caso, ele explica que o grande objetivo é trazer o espírito de humanidade entre os motoristas e oferecer dicas para melhorar o dia a dia. Garante que muitos seguidores olham o seu trabalho como um apoio e agradecem pelas dicas de produtos e serviços oferecidos no canal. “Acredito que os motoristas se identificam com meus vídeos pois eles se deparam com a rotina deles e com as dificuldades que enfrentam”.

“Tenho orgulho de ser motorista e amo trabalhar com caminhão”, diz

Ele conta que o número de pessoas que pedem para continuar com esse trabalho o faz acreditar que está no caminho certo, ajudando os colegas. “Na Fenatran desse ano, por exemplo, um mecânico que estuda engenharia mecânica disse que visita o meu canal para aprender na prática aquilo ele viu na teoria. Pessoas doentes, com depressão também me procuram para agradecer e dizem que os vídeos deram inspiração para seguir”, explicou.

O influenciador explica que sua rotina mudou bastante pois antes era apenas um motorista que fazia uns vídeos. “Hoje é difícil eu conseguir conciliar o trabalho de motorista de buscar carga, carregar o caminhão com o de influenciador digital, gravando vídeos, postando nas mídias sociais e dividindo a minha vida com os seguidores. Tenho que tomar cuidado com o que eu falo e posto”.

Neni afirma que ser o influenciador digital ajudou a abrir muitas portas e a encurtar alguns caminhos burocráticos. Por outro lado, afirma ser um trabalho de extrema responsabilidade. “As pessoas acreditam nas coisas que a gente posta e por isso eu decidi desde o início que falaria apenas das coisas que eu realmente provo e aprovo”, afirmou.

Para Neni, a profissão hoje está muito defasada no Brasil, principalmente para os autônomos. Acredita que não existe leis que realmente os apoie. “A profissão é tão digna quanto qualquer outra e merecia mais respeito. Tenho orgulho de ser motorista e amo trabalhar com caminhão. Por isso eu falo que hoje só amando a profissão para se mante nela, pois está muito difícil”, destacou.

Fonte: O Carreteiro

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