Júlio Ometto cresceu nos anos 80 e, inspirado no cinema daquela época, desenvolveu o sonho de ser bombeiro ou caminhoneiro. Hoje, aos 44 anos, o empresário de Santa Bárbara d’Oeste (SP) conseguiu unir o velho desejo da infância com a vida adulta, mesmo sem exercer tais profissões. Ele coleciona caminhões antigos, entre eles, uma relíquia usada nos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos.
A paixão por carros antigos começou quando, junto ao irmão, Ometto adquiriu um jipe, ainda aos 14 anos de idade. Era o início de um hobbyque o acompanharia ao longo das próximas décadas. O primeiro caminhão, no entanto, veio em 2009.
“Comprei um caminhão americano que havia sido importado pelo Exército Brasileiro na década de 1960”. O veículo acabou sendo vendido, mas a paixão pelos pesados estava longe de terminar.
Do cinema para a garagem
A vontade, agora, era possuir um dos clássicos caminhões americanos, daqueles que Ometto cresceu assistindo em filmes nos anos 70 e 80.
“Fiz uns amigos que possuem esses caminhões e eles me encorajaram a importar um, mas eu não entendia nada desse tipo de veículo”, relembra.
Em 2012, o empresário encontrou, em um anúncio de um site dos EUA, um Kenworth ano 1972, em perfeito estado de conservação. “O caminhão estava no estado do Novo México e havia pertencido a uma transportadora de gado e madeira”, conta. Estava escolhido o próximo xodó.
A ajuda para realizar o sonho veio de um despachante de Porto Alegre (RS).
“É um negócio arriscado. O processo, desde a escolha do caminhão até a retirada no porto, dura cerca de um ano”, explica Ometto.
Para mover as mais de 12 toneladas, o modelo conta com 15 marchas, além de um motor turbodiesel de seis cilindros em linha com 400 cavalos de potência . O consumo? Cerca de 2 quilômetros por litro. “Não é mais um veículo de trabalho, nunca está carregado. Uso apenas para passear e quase sempre na rodovia”.
A cabine é revestida por um material térmico e acústico. “O Novo México é um estado onde faz muito calor no verão e muito frio no inverno. Como os caminhoneiros dormiam no próprio caminhão, tem que ser confortável em qualquer época do ano”.
Paixão em comum
Ometto conta que, no Brasil, o veículo já rodou bastante.
“Viajamos com outros amigos que possuem caminhões e percorremos diversos estados do Brasil. O lugar mais longe que fomos até hoje foi Bonito (MS)”.
Os amigos formam a Confraria de Gigantes, um grupo de donos de caminhões raros e antigos que vivem no interior de São Paulo.
Caminhão de Bombeiros do 11/09
A cereja da coleção de Ometto veio da pequena cidade de Ironwood, estado de Michigan, também nos EUA, e chama atenção pela vibrante pintura amarela. Fabricado em 1987, o caminhão de bombeiros esteve ativo até 2016, destacando-se no rescaldo das operações durante o fatídico 11 de setembro de 2001, data que marca o atentado terrorista ao World Trade Center, em Nova Iorque.
A Informação é confirmada pelo próprio Departamento de Segurança Pública da cidade, que lembra, ainda, que o veículo também esteve em exposição no Canadá.
Em 2017, em contato com o comandante do Corpo de Bombeiros da cidade onde o caminhão estava, Ometto fechou o negócio.
“Eles substituíram o modelo depois que ele completou 30 anos. Até hoje mantenho contato com o comandante. Ele ficou emocionado ao ver que o caminhão veio para um colecionador e que será bem cuidado”.
O veículo, fabricado em Detroit pela Seagrave, tradicional fabricante de carrocerias para caminhões de bombeiro dos EUA, possui 300 cavalos, também com seis cilindros. A escolha pelo modelo se deu justamente pela cor.
“Nos EUA, cada estado possui um padrão de pintura para veículos da Polícia ou dos Bombeiros. Em Michigan eles utilizam esse tom de amarelo. Achei muito bonito e diferente”, revela.
Família na estrada
Talvez nenhum caminhão teria desembarcado na garagem de Ometto se a esposa, Vanessa, não concedesse o aval necessário para as aquisições. A companheira do empresário, no entanto, garante que a paixão pelos brutos é compartilhada pelo casal.
“Eu adoro viajar de caminhão junto com os outros colecionadores. Somos muito amigos e acabamos nos tornando uma família. Além das viagens, vamos a aniversários uns dos outros, casamentos e outras celebrações, nos tornamos muito próximos”, conta Vanessa.
E se engana quem pensa que Vanessa se contenta apenas em ocupar o banco do carona. A esposa de Ometto também fica atrás do volante. “Às vezes eu dirijo o caminhão de bombeiros, que tem câmbio automático”.
Os dois filhos do casal, de 13 e oito anos, já se interessam pelos caminhões. “Eles adoram e nos acompanham nos passeios. Logo eles é que vão dirigir”, garante Ometto. O empresário prefere não revelar os valores exatos dos xodós, mas demonstra firmeza ao dizer que não se arrepende do investimento. “Qual o preço de um sonho? Para mim, foi um valor que valeu a pena”, finaliza.
Fonte: G1