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Fraudes em concessões do seguro DPVAT são confirmadas pela Polícia Federal

Comissão que investiga fraudes na concessão do seguro DPVAT recebeu, em audiência pública, representantes da Polícia Federal e do Ministério Público de Minas Gerais. Eles citaram os trabalhos realizados pela Operação Tempo de Despertar, responsável por desarticular organização criminosa especializada em fraudar concessões do seguro. Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público indicam que as fraudes podem chegar a 1 bilhão de reais em todo país.

Segundo a Polícia Federal, estão envolvidos servidores públicos, agentes da Polícia Civil, médicos, fisioterapeutas e inclusive diretores da Seguradora Líder, empresa detentora dos direitos administrativos do Seguro DPVAT. Para Marcelo Freitas, delegado da Polícia Federal, é certo o envolvimento de pessoas ligadas à seguradora nas fraudes.

“Não é possível que todas essas fraudes, estejam acontecendo de norte a sul do país, sem a participação comissiva ou omissiva, especialmente de diretores da Seguradora Líder.”

Hoje, existem mais de 400 mil casos na Justiça brasileira para requerimentos de seguro. Promotores do Ministério Público de Minas Gerais confirmaram que 100% dos casos judiciais analisados por eles na Comarca de Montes Claros são casos fraudulentos. Nenhuma das vítimas incluídas no seguro possui qualquer tipo de lesão permanente. Paulo da Silva, promotor de Justiça de Minas Gerais, ainda relatou que as fraudes chegam inclusive às funerárias.

“Há uma distorção nas estatísticas com relação às mortes que acontecem no trânsito, estima-se 50 mil mortes por ano, eu duvido que esse número seja real. Porque dentro das fraudes que nós investigamos há uma fraude que atua especificamente dentro das funerárias e dos hospitais, ou seja, transformar mortes em acidentes de trânsito.”

A Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro – pelo menos deveria ser: Ministério Público, Polícia Federal e parlamentares são unânimes em dizer que existe uma omissão por parte da SUSEP no cumprimento dessa função.

O deputado Cabo Sabino, do PR do Ceará, fez duras críticas ao trabalho da SUSEP.

“A SUSEP tem sua responsabilidade, inclusive, eu já requeri na própria Comissão, que nos fosse enviado um relatório feito pela própria SUSEP por um grupo fiscalizador. Nós já tomamos conhecimento que esse relatório nos traz uma série de irregularidades da Líder seguradora. O que prova, portanto, que o ex-presidente da SUSEP era conivente com toda essa questão de fraude praticada dentro da Líder Seguradora.”

Para a deputada Gorete Pereira, do PR do Ceará, terceira vice-presidente da comissão, é necessário retirar o monopólio em relação à administração dos recursos do seguro DPVAT.

“Se você retira o monopólio, você retira o mandato de dois anos, você diz que tem rodízio, você diz que realmente as pessoas que não precisam pagar o DPVAT não devem ter esse seguro, você vai conseguir de qualquer forma uma quantidade de dinheiro que possa subsidiar o SUS.”

Parlamentares e palestrantes também concordaram que o monopólio é prejudicial para a população e também por facilitar as fraudes que vêm acontecendo.
Segundo o Ministério Público e a Polícia Federal, para conseguir as concessões do seguro, os envolvidos fraudam documentos como boletins de ocorrência, atestados médicos e procurações. Além disso, conseguem ter acesso a informações privilegiadas com dados de possíveis vítimas, por meio de funcionários de hospitais e policiais. Pelas investigações, apenas um policial civil realizou 6 mil boletins de ocorrência fraudulentos de acidentes de trânsito em um período de dois anos.

A CPI do Dpvat encerra-se em 2 de outubro, mas parlamentares esperam a confirmação no plenário da Câmara para a prorrogação por mais 60 dias.

Fonte: Blog do Caminhoneiro

Fraude no DPVAT pode ter desviado R$ 1,8 bilhão por ano

O motorista de caminhão Silva estava dirigindo sua motocicleta na zona rural de Espinosa, no interior de Minas Gerais, quando perdeu o equilíbrio e a derrubou em cima da própria perna. Foi atendido em um hospital local e, enquanto estava internado, acionou o seguro de acidentes de trânsito, que indeniza quem se machuca dirigindo, como passageiro ou pedestre.

Silva ficou sabendo que teria direito a um cheque de 2 363 reais. Falou sobre o assunto com o fisioterapeuta que o atendeu, e ouviu a seguinte recomendação: se alegasse que não podia mais mexer a perna, obteria uma indenização adicional de 7 088 reais, valor que seria dividido com o médico e dois advogados.

Silva seguiu o conselho e entrou na Justiça solicitando o valor maior, mas o juiz recusou o pedido, ao notar que Silva ainda trabalhava como motorista de caminhão — logo, podia mexer a perna. Mesmo assim a seguradora pagou 2 599 reais a mais. Não foi bondade, foi fraude.

O caso citado é um dos que constam de um inquérito da Polícia Federal (PF) que apura irregularidades nesse mercado. Depois de dois anos de investigação, a PF concluiu que o esquema, que supostamente contava com a participação de diretores da empresa, pode ter desviado 1,8 bilhão de reais por ano.

Esse seguro de acidentes de trânsito é obrigatório: todos os donos de veículos precisam pagar, anualmente, um valor fixo definido pelo Conselho Nacional de Seguros Privados: hoje, a taxa é de 105,65 reais para carros e de 292,01 para motos. No ano passado, quase 60 milhões de brasileiros pagaram 9 bilhões de reais.

Até 2008, eram as seguradoras que faziam a administração dessas apólices, vendendo o seguro e ficando com a taxa de corretagem. O problema é que o controle era capenga: estima-se que quase 70% dos motoristas não pagavam o seguro. Para tentar resolver a questão, o governo decidiu criar uma empresa — privada, pelo menos — para centralizar a operação.

Surgiu, assim, a Líder-DPVAT, que representa 70 seguradoras, privadas e estatais. Seus diretores, indicados pelas principais seguradoras do país, são responsáveis por controlar as indenizações. Segundo a PF, a diretoria da Líder facilitou a ocorrência de fraudes fechando acordos na Justiça mesmo quando já tinha pagado indenização ou quando o próprio juiz dizia que o autor da queixa não tinha direito ao recurso.

A investigação também aponta que a mulher de Ricardo Xavier, presidente da Líder, e a de Marcelo Davoli, diretor jurídico, seriam donas de empresas que prestam serviços para a seguradora, o que é proibido pelo estatuto da companhia.

A PF entregou o inquérito ao Ministério Público, que deverá definir até o fim de agosto se denunciará os diretores à Justiça. “Defendemos a extinção do modelo da Líder”, diz o promotor Paulo Márcio da Silva, responsável pelo caso no Ministério Público Federal. Há uma investigação semelhante na Polícia Civil do Ceará.

Em maio, a Susep, órgão que fiscaliza o mercado de seguros, criou uma comissão especial para analisar a atuação da Líder. No mês seguinte, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o assunto.

A seguradora contratou a auditoria PwC para fazer uma investigação própria das fraudes e outra auditoria, a KPMG, para analisar os contratos com fornecedores. A conclusão da KPMG é que não há contratos ou favorecimento de empresas de parentes de diretores da companhia.

A Líder também seguiu as orientações acordadas em um grupo de trabalho formado com o Ministério Público e a Polícia Federal há um ano, com a contratação da auditoria Deloitte para credenciar novas empresas de avaliação médica de acidentados (KPMG, Deloitte e PwC não deram entrevista).

Em nota, a Líder diz refutar as acusações de irregularidades, afirmando que o inquérito não traz provas contra seus diretores. Diz ainda que a empresa fecha acordos na Justiça para reduzir despesas com ações judiciais, em linha com as orientações do Conselho Nacional de Justiça. “A Líder-DPVAT é vítima das fraudes, sendo a maior noticiante desses casos aos órgãos policiais”, diz a nota.

“O que existe é o interesse de transformar Montes Claros numa nova república da Polícia Federal”, afirma o executivo de uma seguradora referindo-se ao apelido dado a Curitiba, sede da Operação Lava-Jato. A cidade de Montes Claros, em Minas Gerais, foi onde a investigação começou, em 2014.

Em nota, a Susep diz que não foi identificado, até o momento, qualquer fundamento contra os administradores do DPVAT — mas entende que o modelo “pode ser aprimorado”. As seguradoras que indicam a diretoria da Líder recorreram ao Supremo Tribunal Federal para extinguir a CPI. Agora cabe ao Ministério Público definir o próximo passo.

Fonte: Blog do Caminhoneiro