Fretes: Avanço da colheita ainda pode elevar os preços


Com o avanço da colheita da soja no Brasil, mesmo que de forma mais lenta nesta temporada 2015/16, os produtores começam agora a colocar em prática suas estratégias de logística para que a entrega de seu produto seja efetivada. E a variação dos preços dos fretes é acompanhada dia a dia, principalmente porque a oleaginosa disputa a oferta do serviço com outros itens que seguem sendo direcionados para os portos.

A dinâmica da movimentação da produção agrícola brasileira mudou a partir de 2012, quando a segunda safra de milho passou a ser maior do que a primeira, como epxlica o economista e pesquisador da Esalq/LOG, Samuel da Silva Neto. E a divisão clara que existia antes, com a soja sendo escoada no primeiro semestre e o açúcar no segundo, acabou comprometida.

Assim, a virada de 2015 para 2016 foi marcada por preços bastante elevados dos fretes, já que as exportações nacionais de milho vinham registrando níveis recordes, uma vez que o dólar alto contribuiu para os negócios, aumentando a demanda internacional pelo cereal brasileiro.

Ainda segundo Neto, os volumes de milho chegando aos portos em janeiro eram bastante elevados. E para todo o ano comercial atual, a perspectiva é de que o Brasil exporte mais de 30 milhões de toneladas, com volumes saido ainda entre os meses de fevereiro e março, movimento que não era comum há alguns anos. Na temporada comercial 2014/15, o país exportou 30,2 milhões de toneladas do grão.

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Entretanto, o pico da temporada de fretes ainda não chegou e, portanto, a tendência é de que os preços passem por alguma acomodação. Como explicou Edeon Vaz, coordenador executivo do Movimento Pró-Logística, da Aprosoja MT, esse período deve acontecer entre os meses de março e abril, com um volume maior de soja chegando ao mercado. “Como acontece em todos os anos, janeiro é uma repetição do que acontece entre os meses de outubro e novembro”, diz.

Dessa forma, com uma oferta maior do serviço nesse momento, apesar de terem iniciado o novo ano em alta, os preços devem ceder ligeiramente. “Temos 300 mil caminhões a mais do que o necessário, e o frete, como outros itens, obedece a lei de oferta e demanda”, explica o especialista.

Valores x Clima x Colheita

Números do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) mostram um avanço significativo nos valores de frete para as principais rotas da soja que sai do estado. De Sorriso a Santos, por exemplo, na primeira semana de janeiro, o preço do serviço era de R$ 322,50 e, na última, estava próxima de R$ 295,00, ou seja, uma baixa de 8,53%. Já em relação ao ano passado, o aumento é significativo. A mesma rota, no início de 2015, tinha preço de R$ 230,00.

Essa acomodação dos valores, como explica o superintendente do instituto, Daniel Latorraca, se dá, além da maior oferta de serviço, pela ligeira queda natural no volume de milho enviados aos portos nos meses seguintes, apesar de ainda ocorrerem. “Temos uma baixa natural da saída do milho, e o pico mesmo, para a soja, vai ocorrer quando ocorrer o pico da colheita”, explica.

E, ainda de acordo com o último levantamento do Imea, os trabalhos de campo em Mato Grosso estão atrasados em relação a 2015 e à média dos últimos anos. Até o final de janeiro, apenas 8,2% da área cultivada no estado havia sido colhida, contra 10,3% do mesmo período do ano passado.

Em um ano, de dezembro de 2014 a dezembro de 2015, segundo informou o Sifreca (Sistema de Informações de Frete) da Esalq-LOG, o valor do frete para a rota Sorriso/MT – Porto de Paranaguá subiu 34,09%, passando de R$ 220,00 para R$ 295,00 por tonelada.

No Paraná, os produtores também têm dificuldade de dar melhor andamento aos trabalhos de campo dado o excesso de chuvas e, consequentemente, cresce a preocupação com a logística. Em Londrina, por exemplo, a colheita deve ganhar mais ritmo nos próximos 10 a 15 dias. “Pelas previsões, na região terá muita chuva ainda até o mês de abril, o que pode atrapalhar e prejudicar a qualidade do grão”, explica Narciso Pissinati, presidente do Sindicato Rural local.

Os problemas causados pelo clima no sistema logístico do Brasil, no entanto, já são conhecidos. Se os preços não disparam em função da elevada oferta atual de fretes no país, as condições para que eles ocorram podem inflacionar os valores. Atualmente, essas preocupações já atingem produtores, além do Paraná, de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Piauí.

E nesse caso, não só os grãos sentem o impacto, mas os alimentos de uma forma geral, que chegam mais caros aos consumidores finais. Em entrevista ao jornal da Globo, o comerciante de hortifrutis Josiel Lopes, os valores do frete subiram perto de 15% e o valor tem de ser repassado.

No Piauí, a principal rodovia para o escoamento da safra, a Transcerrad, está em péssimas condições e os produtores locais esperam pela conclusão das obras há mais de 20 anos, como mostrou uma reportagem do Jornal Nacional nesta quinta-feira (4). No Mato Grosso do Sul, a situação é bem semelhante. O excesso de chuvas no estado tornou as saídas ainda mais complicadas e o escoamento da soja, entre outros produtos, está comprometida e pode se atrasar.

Em Mato Grosso, segundo explica o representante da Aprosoja MT, há cerca de 24 mil quilômetros sem pavimentação e as que estão pavimentadas, em grande parte, estão em condições ruins, não adequadas para um bom transporte. As perdas com o escoamento de grãos no Brasil, segundo mostram estudos, são milionárias.

Pedágio e Óleo Diesel

O aumento das praças de pedágio – só a BR-163 ganhou nove delas – e do óleo diesel são outros fatores agravantes e devem contribuir para o aumento dos preços. O combustível corresponde, ainda segundo explica Edeon Vaz, por 53% do valor do frete e “é natural que esta alta seja repassada para o valor do serviço, mas nem sempre esse repasse é integral”.

No início deste ano, a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) sobre o diesel, reduzida para 12% em 1º de julho de 2015, retornou para 17% e teve impacto direto sobre os preços do produto, portanto.

Mudanças

Apesar de ainda deficiente e insuficiente, o sistema logístico do Brasil tem apontado algumas melhoras nos últimos anos, como o sistema de agendamento da chegada dos caminhões aos portos e a migração de parte desse escoamento para os portos do chamado Arco Norte. No ano comercial anterior ao atual, cerca de 12,6 milhões de toneladas de soja do total exportado, ou 23%, deixaram o país pelos terminais da região – Ilhéus/BA, São Luís/MA, Itacoatiara/AM, Barcarena e Santarém,PA. “Isto reflete um aumento de 21% em relação à temporada anterior”.

Fonte: Blog do Caminhoneiro

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