Arquivo da tag: Amigo Estradeiro

Negócio entre colegas de estrada

A troca do caminhão sempre foi um tabu para o carreteiro, principalmente o autônomo, profissional que diante da burocracia imposta pelas financeiras encontra grandes dificuldades para obter o crédito necessário para concretizar a transação e realizar seu objetivo. Mudanças na legislação, como o fim da carta frete, ajudaram a tirar esses profissionais da informalidade, porém, entraves como os juros praticados pelo mercado, instabilidade da atividade e preços dos veículos ainda desencorajam os pequenos transportadores a se arriscarem a enfrentar um compromisso financeiro que não tem certeza se conseguirá pagar. E assim, entra ano e sai ano, a frota em poder dos transportadores autônomos vai ficando mais velha e carente de renovação.

Dados divulgados recentemente pela ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre – com base no RNTRC – Registro Nacional de Transporte Rodoviário de Carga, mostram que atualmente o Brasil tem uma frota estimada em 1.746.124 veículos de cargas. Desse total, 648.751 unidades, cuja idade média é de 16 anos, estão nas mãos de autônomos. Ainda de acordo com a pesquisa, quando se trata da idade média da frota das empresas a idade média cai para 9,5 anos.

Para driblar as dificuldades e tentar atualizar o caminhão, os autônomos têm buscado alternativas para evitar financiamentos. Uma delas é comprar um veículo mais novo de algum colega que também esteja pensando em trocar e assim conseguir pagar a vista ou em parcelas sem juros.  É o caso de Heber Coelho, 43 anos de idade e 24 de profissão, de Barra Mansa/RJ, para quem financiamento não é uma boa opção para o autônomo, porque os juros são muito altos e no final acaba não valendo a pena. Para ele, funciona a opção de comprar um caminhão usado, um pouco mais novo, de algum colega que também esteja pensando em trocar seu veículo por outro mais atual.

Comprar caminhão por financiamento não é uma boa opção para autônomos, porque os juros são muito altos e no final acaba não valendo a pena, opinou Heber Coelho

“Vendi meu Scania 112 ano 87 e comprei um Mercedes-Benz 1634, fabricado em 2004, com o qual trabalho hoje”, disse Coelho ao comentar sobre a troca de veículo no início desse ano. O autônomo afirmou que fez a transação com um colega que também estava trocando o caminhão por outro mais novo. “É muito mais tranquilo e seguro. Não tenho de arcar com juros, e caso eu atrase algum pagamento, é só ligar e avisar que fica tudo certo”, afirmou.

O carreteiro conta ainda que antes de negociar com o colega havia procurado um financiamento. Porém, como havia registro de atraso de parcelas referente ao seu último contrato, foi classificado como cliente de risco. “É um absurdo. Atrasei três parcelas em 2008, quando também enfrentávamos uma crise. Mesmo já estando tudo quitado e certo, inclusive os juros, fui classificado como um mau pagador”, declarou.

Apesar de ter feito recentemente a troca de caminhão, Heber Coelho disse que já pensa em uma nova atualização, caso surja alguma oportunidade com algum outro colega. Reforça que atualmente o risco eleva os juros, que ficam muito além das condições dos autônomos. “A renda de um autônomo é o caminhão e imprevistos acontecem. Por isso, assumir parcelas altas com essas financeiras é muito complicado”, justificou.

Anderson Kalatalo da Silva, 40 anos de idade e 22 de profissão, da cidade de São Paulo/SP, transporta revistas no interior do Estado com um Mercedes-Benz 1113, ano 1980, em bom estado de conservação. Há seis anos ele havia trocado esse caminhão outro Mercedes-Benz 1113, ano 1976. Anderson também defende que, assim como muitos colegas, a troca só foi possível porque um outro autônomo estava vendendo seu veículo.

Anderson Kalatalo disse que só conseguiu trocar de caminhão porque encontrou outro motorista autônomo que também estava comprando um modelo mais novo

“No meu caso, não penso em trocar por um modelo zero quilômetro, pois o valor do frete seria o mesmo. Na minha área de atuação, a idade do caminhão não importa. Mas penso em pegar um mais novo, 1998, quem sabe”, explicou. No entanto, o carreteiro reconhece que precisa achar um colega que esteja disposto a negociar. Destaca que esse é o caminho mais curto para os autônomos, além de ser mais seguro por se saber a procedência do veículo. “Assumir parcela atualmente é bem complicado, porque não temos muita garantia”, complementou.

Anderson lembra que antigamente as empresas garantiam trabalho, então era mais seguro assumir dívidas, mas hoje a instabilidade é muito grande e força o motorista a não entrar em financiamento. “A melhor maneira de progredir na profissão é cuidar do caminhão para poder ter um valor razoável na hora da venda.  Sempre que possível, o motorista deve fazer uma reserva financeira para poder completar o valor do próximo veículo e pagar à vista”, explicou.

Há apenas dois anos na profissão, Daniel dos Santos Rodrigues, 42 de idade, de Cachoeiro de Itapemirim/ES, também acredita que a melhor maneira de adquirir um caminhão um pouco mais novo é comprando de um outro colega. Igualmente concorda que entrar em financiamento é muito arriscado para uma profissão cheia de altos e baixos. Alerta que os juros são abusivos e chegam a dobrar o valor do veículo.

Daniel Rodrigues contou que para iniciar na profissão ele e seu irmão venderam um caminhão e dividiram o dinheiro. Com a sua parte e um pouco mais ele virou autônomo

Rodrigues conta que para começar a trabalhar na profissão foi necessário seu irmão vender um Mercedes-Benz 1620 anos 2007. “Dividimos o dinheiro da venda e completei minha parte com mais R$ 15 mil para poder comprar, à vista, outro Mercedes-Benz 1318 fabricado em 1988. “É muito sacrifício financiar um veículo zero quilômetro. Além disso, no meu caso eu ganharia apenas no conforto, porque o valor do frete seria o mesmo”, explicou.

Apesar do pouco tempo de estrada, o carreteiro acredita que o sucesso na profissão, e até mesmo o caminho para a troca do caminhão, está na forma como o motorista encara o veículo. “Eu trato o caminhão como uma empresa. Separei um valor para pagamento das despesas particulares e outro para ser direcionado às melhorias do veículo, que podem ser para manutenção, troca de uma peça ou outros cuidados”, explicou. Apesar de estar satisfeito com o seu caminhão, Daniel deixou escapar que tem expectativa de trocá-lo por um modelo mais novo, com o qual poderá ter um pouco mais de conforto.

O capixaba de Guarapari, Farley Nunes Santana, 35 anos, nove de profissão, transporta bobina do Espírito Santo para São Paulo e retorna com carga de sucata. Assim como seus colegas de profissão, acredita que atualmente financiamento não seja uma boa opção. Ele trabalha com um Mercedes-Benz Axor 2540 ano 2006 que comprou em sociedade com um colega. Porém, para entrar na sociedade teve de vender seu carro de passeio. O negócio deu certo e agora já estão se organizando para comprar outro modelo da marca, porém ano 2015.

A venda de um carro de passeio para comprar o caminhão em sociedade com um colega foi o meio encontrado por Farley Santana para entrar na profissão

Quando questionado se poderá optar por financiamento, Farley disse ser muito complicado arcar com os juros oferecidos para o autônomo. “Além da burocracia, o valor é muito alto e se torna arriscado assumir dívida em um momento de instabilidade”, justificou. A estratégia a ser adotada é comprar o veículo de algum colega que esteja pensando em trocar. “Assim é mais fácil e conseguimos nos organizar para pagar à vista e sem ter o compromisso mensal de um financiamento, que somado a outras despesas, como manutenção e diesel, fica muito pesado no orçamento” detalhou. Para atingir esse objetivo, o carreteiro explicou que já está separando dinheiro para a troca.

Diferente dos demais colegas, o autônomo Luiz Cláudio da Silveira Bugarim, de Volta Redonda/RJ, 43 anos de idade e 16 de profissão, que transporte sucata, teve de optar pelo financiamento. Atualmente ele trabalha com um Scania 124 ano de fabricação 1998,  que apesar de ser antigo não interfere muito no valor do frete, conforme afirmou.

No tipo de transporte que atua, o ano de fabricação do caminhão não interfere no valor frete, afirmou Luiz Cláudio Bugarin, dono de um Scania fabricado em 1998

Está com o veículo desde dezembro de 2017. Seu caminhão anterior era um Scania 114, ano 2001. Porém sofreu um acidente e teve perda total.

Com o valor que recebeu do seguro deu entrada no modelo três anos mais velho e financiou R$ 15 mil em 36 vezes, com pagamentos mensais de R$ 1016,00. Disse que não poderia assumir uma parcela de valor muito maior, sendo essa a única opção, mesmo sabendo dos juros absurdos inseridos em cada parcela. “Apesar do caminhão ser mais velho, não mudou em nada o meu trabalho e nem no valor que recebo. Por isso nem penso em trocar novamente”, explicou.

Luiz Claudio reclama que muitos programas de renovação de frota aparentemente voltados para os autônomos beneficiam apenas as empresas. Lembra de um programa de renovação de frota lançado há algum tempo no Rio de Janeiro, que na prática não valia muito a pena para os motoristas, porque as prestações eram altas. “O que aconteceu? As transportadoras da cidade renovaram suas frotas. O ideal seria um programa com juros baixos e parcelas viáveis para que o autônomo realmente conseguisse pagar a dívida”, opinou.

O autônomo Carlos Rogério, 32 anos de idade e 12 de profissão, da cidade de Recife/PE, autônomo e atua no transporte de carga geral. Atualmente ele trabalha com um Scania ano 2002 e está com o veículo há pouco mais de três anos. Antes tinha um Volvo 340, ano 1995, que vendeu para entrar num financiamento. Rogério recorda que foi um sacrifício pagar as parcelas, mas precisava ter um caminhão melhor para disputar fretes melhores. A burocracia ainda é grande, mas quando você já tem um bem, conta corrente no banco, registro na ANTT e documentação em dia consegue juntar mais um valor fica mais tranquilo”, comentou.

Carlos Rogério disse que vendeu um caminhão ano 1995 e assumiu financiamento para comprar um modelo ano 2002 e obter fretes melhores

Acredita que mudanças como o pagamento eletrônico de frete e o fim da carta frete ajudaram a melhorar a imagem do motorista e encurtaram o caminho para o motorista conseguir financiamento. No entanto, alerta ser muito importante estar em dia com pagamentos e documentação, além de guardar dinheiro para conseguir honrar as parcelas do financiamento. “Acredito que hoje consigo assumir uma parcela de até R$ 2.000,00, por isso já estou me organizando para financiar o menor valor possível na próxima troca”, afirmou.

Sua expectativa é comprar um modelo mais novo, fabricado pelo menos em 2008. Acredita que para crescer profissão é necessário ter planejamento e não adianta dar um passo maior que a perna e trocar o caminhão usado por um zero quilômetro. “Tem de ser aos poucos, pensando sempre no faturamento bruto faturado e nas despesas mensais para calcular o valor máximo que poderá assumir da parcela do financiamento”, concluiu.

por Daniela Giopato

Fonte: O Carreteiro 

Ninguém chega longe pisando fundo

E aí, amigo estradeiro, tudo em paz?

Quando a gente cai na estrada só quer acelerar para chegar logo, descarregar e recomeçar a viagem. é ou não é?

Acontece que quem não presta atenção nas trocas de marcha e não faz manutenção preventiva, acaba gastando mais à toa. Quem dirige caminhão manual e tem mania de acelerar até o motor roncar está desperdiçando dinheiro. O ideal é fazer a troca de marcha dentro da faixa de torque marcada pela cor verde no painel.

Outra coisa que pode estragar o câmbio é não pisar até o fim da embreagem. Ninguém dá muita bola, só que além do desgaste na caixa, você pode ter que trocar a embreagem antes do tempo.

Quem dirige caminhão automatizado ou automático não deve pensar que o trabalho é só acelerar e frear. É o motorista que está vendo as condições da estrada e do trânsito e ninguém melhor que ele para fazer trocas e aproveitar melhor o rendimento do motor.

Às vezes, reduzir manualmente na subida ou soltar na descida, pode aliviar o motor ou o consumo de combustível. Pensa comigo: cada sobrecarga no motor é mais combustível queimado. Aí você diz “mas é pouco”.

Pode parecer pouco no final da viagem. Mas imagine isso somado depois de um, dois ou cinco anos de estrada. De repente, dá até para trocar de caminhão!

Vídeo: