Você sabia que 70% dos roubos de carga acontecem por fuga de informação – quando alguém envolvido na cadeia logística passa informações importantes aos assaltantes? Esse foi um dos dados divulgados durante o IV Fórum de Prevenção de Roubo de Cargas, evento que aconteceu em São Paulo nessa segunda-feira, 11. No evento, estiveram presentes representantes de instituições como o Setcesp, DHL e Fiesp, além de seguradoras como a Galcorr e a BPI Partners.
Somente em 2017, o segmento do transporte rodoviário de cargas teve prejuízo de R$ 1,570 bilhão decorrente do roubo de cargas. De acordo com dados da NTC & Logística, 85,53% dos roubos de carga acontecem no Sudeste. Os produtos mais visados pelos assaltantes são os alimentícios, seguido de cigarro e eletroeletrônicos.
O evento reuniu representantes de diversos setores envolvidos com o transporte rodoviário de cargas.
Segundo dados trazidos pelo Coronel Souza, do Setcesp, o roubo de cargas é o crime contra patrimônio mais praticado no Brasil, pela facilidade em repassar produtos roubados. Nas favelas do Rio de Janeiro, a venda de carga roubada se tornou um importante braço financeiro do tráfico de drogas.
Por isso, prevenir esse tipo de crime tem sido o objetivo de transportadoras e empresas do setor de logística. Mas o que pode ser feito?
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Segurança pública
O roubo de cargas é um crime mapeado. Isso quer dizer que os assaltantes planejam e escolhem lugares mais propícios para se efetuar o roubo. Segundo Anderson Fagundes, representante da ABSEG no evento, o Brasil está entre os 3 países mais perigosos para cargas, junto com o México e a África do Sul.
As fronteiras também são áreas de risco, como a estrada que liga o Mato Grosso do Sul e o Paraguai. É exatamente essa faixa de fronteira que serve como porta de entrada de parcela importante das armas usadas pelas facções criminosas brasileiras. Outra fronteira que gera preocupação é a de Mato Grosso e Bolívia. Confira no link 5 trechos considerados mais perigosos para cargas no Brasil.
Atualmente, 2,1% do PIB brasileiro é investido em segurança pública. Em comparação com países como Taiwan e China, que investem mais de 100 milhões em segurança anualmente, os investimentos nacionais são pequenos. Além disso, esses países são conhecidos pelas políticas e punições mais severas para tráfico de cargas. Mas seria essa a saída para melhorar a segurança pública no Brasil?
Imagem: PRF
Para alguns palestrantes do Fórum, deve haver uma ruptura na cadeia logística do roubo de cargas, uma vez que se trata de uma ação organizada. Isso envolve “desarmar” o crime organizado impedindo a entrada de armamento no país, melhorar a segurança nos presídios e reestruturar polícias.
Outro passo importante que pode romper a cadeia logística do roubo de cargas é punir quem recepta produtos roubados. Já existem hoje projetos de lei em tramitação que visam aumentar penas para quem rouba, recepta e compra carga roubada. O crime de receptação inclui situações em que alguém tenta fazer com que outra pessoa, de boa fé, compre, receba ou esconda essa mercadoria ilegal.
É possível observar que, culturalmente, o brasileiro não vê problema em comprar carga roubada. A economia subterrânea no Brasil, que envolve atividades ilegais como venda ou troca de produtos roubados, venda de drogas, contrabando, fraude e roubo, tem sido lucrativa para o país nos últimos anos.
Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia e a Faculdade Getúlio Vargas, em colaboração com a revista ETCO, a economia subterrânea no Brasil correspondia R$ 730 bilhões ou 16,6% do PIB brasileiro em dezembro de 2012. Embora a Secretaria da Receita Federal só consiga apreender parte das transações ilegais, em 2013 foram apreendidos R$ 1,7 bilhão em mercadorias.
Para Fagundes, o combate ao crime organizado só dará certo no futuro se ações mais efetivas forem tomadas. Uma delas é a fiscalização e controle sobre agentes públicos envolvidos no enfrentamento do crime organizado. Fagundes também defende maior integração operacional entre os entes federados e fortalecimento da cooperação internacional contra o crime organizado.
Tecnologia
Segurança pública é uma das responsabilidades do estado. Porém, transportadoras e embarcadoras se preocupam com a segurança de suas cargas e passam a investir mais em tecnologia para evitar roubos e inibir assaltantes.
Durante o Fórum, foram apresentadas diversas soluções, como a Tela Energizada T4S, uma espécie de cerca elétrica para a carga. Em caso de tentativa de roubo da carga com rompimento ou perfuração do baú, a tela energizada é acionada, repelindo agressores com choques de alto impacto, porém não letais.
A tela energizada da T4S é acionada em caso de tentativa de roubo da carga com rompimento ou perfuração do baú, com uma descarga elétrica não letal que impede assaltantes de prosseguir com ação. | Imagem: Divulgação
A “cerca” é revestida por um mix de materiais que oferece isolamento e resistência física. Ela não oferece nenhum risco aos motoristas e trabalhadores, na medida em que o sistema só ativa em caso de tentativa de violação/perfuração do baú.
Os comandos remotos só podem ser executados pela Central de Monitoramento: o acionamento e a desativação são totalmente independentes da ação do condutor do veículo.
Outro dispositivo apresentado o Jammer Evolution, da Pointer Cielo. Se trata de um equipamento de contingência que detecta sinais de recepção do rastreador, limitando a velocidade do veículo e impedindo que o rastreador instalado no caminhão seja desligado. O aparelho identifica violação no painel do veículo e é compatível com qualquer modelo de rastreador, segundo a marca.
Caminhoneiros
O problema do roubo de cargas não possui somente uma solução, pois se trata de um problema estrutural. Ainda assim, percebe-se que transportadoras enxergam motoristas como facilitadores de ações criminosas. De fato, existem casos de motoristas que facilitam o roubo de cargas e, para esses, deve haver uma punição, como o Projeto de Lei 1.530/15, aprovado recentemente pela Câmara dos Deputados, que defende a cassação da CNH de motoristas envolvidos em roubo de carga.
De acordo com o advogado Paulo Henrique Cremoneze, motoristas enxergarem gerenciadoras de risco não como aliadas, mas como inimigas, só comprova que a maioria deles, de fato, facilita esse tipo de ação. Entretanto, de acordo com a Setcesp, apenas 1,5% dos caminhoneiros estão envolvidos em roubos de cargas no Brasil.
Apesar de acusarem motoristas de práticas ilegais, gerenciadoras sistematicamente violam a Lei 13.103ao bloquear motoristas usando informações do Serasa e SPC.
Nesse fogo cruzado, o primeiro passo para que ambos trabalhem juntos contra os roubos de cargas é a conciliação. Uma iniciativa do Sindicam SP tem ajudado motoristas e gerenciadoras nesse processo. Se trata da Câmara de Conciliação, um espaço onde gerenciadoras e motoristas podem resolver pendências. Em média, as reclamações que chegam ao sindicato levam 15 dias para serem resolvidas.
Para ser atendido, o motorista tem que entrar no site do sindicato e preencher um pequeno formulário sobre o seu problema (clique aqui para acessar o formulário). A Câmara de Conciliação está aberta a casos de todo o Brasil e funciona gratuitamente.
Fonte: Pé na Estrada